QUANDO OS MOTORES DE TRÊS CILINDROS SÃO MELHORES QUE SEUS SIMILARES QUATRO-CILINDROS

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Você já deve ter ouvido falar muito nesses últimos anos dos verdadeiros milagres obtidos pelos motores de três cilindros quando comparados com os de mesma cilindrada, mas com quatro cilindros. Na realidade, essa “nova tecnologia” não é tão nova assim.

Só para falar em mercado nacional, o DKW, que chegou por aqui no final dos anos 50, já ostentava sob seu capô um diferente motor de dois tempos, três cilindros e 1-litro de capacidade volumétrica.

Depois, no início dos anos 90, tivemos aqui os japoneses Suzuki Swift, Daihatsu Cuore e Subaru Vivio, todos com motores a gasolina, injeção eletrônica e três cilindros. Por isso, os tão alardeados motores de três cilindros não são nenhuma novidade para o consumidor brasileiro.

Culturalmente falando, nós sempre fomos habituados aos propulsores de 4, 6 ou 8 cilindros. Motores que julgávamos “normais”, dependendo do porte do veículo que eles equipavam. O próprio DKW era visto como um carro meio esquisito por causa do seu pequeno motor de três cilindros.

E esse fato não era ligado sequer a potência e ao desempenho, mas sim ao ruído agradável ou não que proporcionava a motorista e passageiros.

Não tenham dúvidas de que a harmonia do som de um motor de quatro cilindros é mais agradável que o ruído descompassado de um três-cilindros. Na primeira década dos anos 2000, estive na Itália para avaliar um novo motor da Fiat de 900 cm³ (0.9 litro), dois cilindros e turbo. Uma joia da mecânica: pequeno, ágil e, principalmente, absurdamente econômico.

Um grupo com cerca de 10 jornalistas brasileiros avaliaram o pequeno Fiat 500 equipado com esse moderno propulsor e foram chamados para opinar sobre seu possível lançamento no Brasil. Dos 10 jornalistas, 8 rejeitaram o ultramoderno motor.

Eu e outro colega fomos os únicos a aprovar a máquina econômica para nosso mercado. Sabem o porquê da rejeição da maioria? O descompassado ruído do motor de dois cilindros.

O grupo julgou que aquele barulho incomodava, passando a impressão de um motor que falhava e poderia parar. E, claro, essa opinião dos profissionais foi levada em consideração na rejeição desse propulsor no Brasil.

Uma pena, mas talvez a maioria dos experientes jornalistas estivesse certa. Mesmo sendo um ótimo avanço tecnológico, o novo motor poderia ser um fracasso nas vendas.

Contei esse fato para ilustrar o quanto é importante o ruído do motor para o consumidor. E no caso dos motores de três cilindros, os técnicos conseguiram amenizar bem o barulho descompassado de seu funcionamento.

As tecnologias atuais em sistemas de aspiração, filtro de ar, coletores de admissão e borboletas que controlam a admissão de ar eletronicamente tornaram os três-cilindros atuais bem “civilizados”.

Por que três é melhor que quatro e dois é melhor que três? Simplesmente pela redução dos atritos internos e de todas as massas móveis no interior do motor. Tudo é menor e mais fácil de girar.

Menos pistões e seus anéis atritando dentro dos cilindros; menos molas e suas válvulas sendo abertas e fechadas; menos atritos entre biela/virabrequim; e virabrequim mais curto e leve. Em resumo, menos inércia e atritos internos fazem um motor fácil de acelerar e que desperdiça muito menos energia.

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Mas, há limite para tudo. Em motores de capacidade cúbica maior, se fossem construídos com três cilindros ou dois, teriam pistões, bielas e até o próprio virabrequim muito pesados para suportar a grande carga térmica e mecânica de uma maior potência. Na prática, um motor de três cilindros é eficiente para até 1.5 litro. Acima disso, até cerca de 2.2 litros, o sistema funciona muito bem com quatro cilindros. Em capacidades cúbicas superiores, pode ter até cinco ou seis cilindros, e acima dos 4 litros, um V8 vai muito bem.

Dessa forma, há um equilíbrio construtivo entre todas as peças que compõe um motor. Nada muito grande nem muito pequeno, nem pesado nem leve demais, mas resistente e durável para suportar a carga térmica e mecânica proporcionais ao tamanho e a potência.

Os motores três cilindros de hoje que a maioria dos fabricantes está adotando há um ótimo equilíbrio térmico e mecânico. Esses motores tem se mostrado ótimos na performance, tanto na potência quanto no torque com baixíssimos índices de consumo graças ao menor atrito interno e aos comandos de válvulas variáveis, que otimizam o torque nos baixos regimes e a potência nas altas rotações.

Tudo melhora nas versões com turbo e injeção direta, recursos que melhoram ainda mais o rendimento térmico e volumétrico da máquina.

Se você estiver em dúvida entre comprar um popular atual com três ou quatro cilindros, não vacile na escolha: pode comprar o três-cilindros que você estará adquirindo um carro de motor moderno, com a tecnologia mais atual que a indústria automobilística dispõe no mercado mundial.

[RevistaAutoEsporte]

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