A partir de 2017 o sistema de placas de registro de veículos irá mudar mais uma vez no Brasil. A mudança de sistema depois de apenas 25 anos não tem a ver com o fim das combinações, como a anterior, mas sim com a formação de um cadastro integrado para todos os países do Mercosul, inspirado no sistema da União Europeia.
Esta será a quinta vez que o tipo de placas muda no Brasil desde 1901, quando foi criado o primeiro sistema nacional — o que significa que um Ford T 1916 que foi mantido sempre licenciado nesses 100 anos teve ao menos quatro placas diferentes. Isso se ele foi registrado sempre na mesma cidade, pois no passado o emplacamento já foi municipal e, depois, estadual, antes de ter um registro nacional.
Para entender melhor esse troca-troca brasileiro, veremos a seguir os detalhes de cada um dos cinco sistemas de placas de veículos adotados por aqui.
O primeiro sistema: as placas pretas (1901 – 1941)
O primeiro sistema de placas brasileiras foi usado por 40 anos, entre 1901 e 1941. As placas eram originalmente pretas ou vermelhas com caracteres brancos e eram emitidas pelas prefeituras, ou seja: poderia haver placas iguais em cada um dos municípios brasileiros. E isso não era difícil de acontecer, afinal elas usavam apenas uma sequência básica de números de 1 a 99999 precedida pelas letras P, para veículo particular, ou A, para veículo de aluguel.
A placa não aparece inteira, mas dá para ler: A 10.594. Um táxi carioca dos anos 1930. Foto: carrosantigos.wordpress.com
Segundo sistema: as placas numéricas (1941 – 1969)
A partir de 1941 foi adotada uma evolução do primeiro sistema: as placas continuaram a ser emitidas pelos municípios com sequência numérica simples (o primeiro carro recebia o número 1, o segundo o número 2 e assim por diante), mas agora a categoria do veículo era representada por sua cor, uma ideia que surgiu ainda no sistema anterior: a placa laranja com números pretos era usada por veículos particulares, e a vermelha com números brancos por veículos de aluguel e/ou frete. No topo da placa ficava o nome do município de registro seguido pela sigla do estado como forma de diferenciar carros de diferentes cidades, porém com a combinação numérica igual.
A placa traseira era diferente: tinha só a sigla do estado e a sequência de números. As placas de motos também eram assim, porém eram ovais, e não retangulares.
Ao atingir as centenas e milhares, as placas separavam as combinações por um ponto em altura média, como em 1·23, 12·34, 1·23·45 e 12·34·56. Em São Paulo as placas chegaram a ter sete dígitos, e para evitar confusões, o estado adotou um sistema próprio de placas. Elas começavam com a letra S combinada ou não a outra letra para identificar a região administrativa em que o carro era registrado. A letra S sozinha indicava os carros da capital, SG identificava os carros da Grande São Paulo, SC os carros da região de Campinas, SJ os carros da região de São José dos Campos, SO para a região de Sorocaba, SP para Presidente Prudente e região, SR para Ribeirão Preto e região, SS para Santos e Baixada, SB para Bauru e região e SA para Araçatuba e região.
Em meados dos anos 1960 a placa laranja foi trocada pela placa amarela com números pretos, mas o sistema não durou muito tempo depois disso: com a dificuldade de controlar tantos carros com a mesma placa dentro do mesmo estado, no fim de 1969 o sistema foi substituído por um novo padrão inspirado no modelo paulista.
Terceiro sistema: as placas alfanuméricas (1969 – 1999)
Em 1969 surgiu o sistema alfanumérico, combinando um par de letras seguido por quatro números para veículos de quatro ou mais rodas e três números para veículos de duas ou três rodas. A principal novidade deste novo sistema é que as placas passaram a ser registradas pela UF, e não mais pelo município. Assim, as combinações de letras eram distribuídas por região administrativa, evitando a repetição de placas dentro do estado. A nova combinação permitia o registro de 675.324 motos e triciclos e 6.759.324 automóveis e afins por estado.
Mesmo com o registro estadual, as placas continuavam vinculadas ao município, por isso, se você mudasse de cidade ou vendesse o carro para alguém de fora, a placa do carro precisava ser trocada por uma da região. As combinações da placas eram reutilizadas em caso de transferência de município ou baixa do veículo.
Como você já deve ter percebido, não demorou para que as placas começassem a se repetir em diferentes estados. Isso não era um problema em uma época anterior aos computadores e radares, mas quando os primeiros sistemas computadorizados começaram a ser instalados o negócio começou a complicar. Além disso, por ter apenas três algarismos, as placas de motos e triciclos poderiam ser lidas como AB-1230 ou AB-0123 pelos sistemas, ocasionando um conflito de dados com o registro dos carros com tais placas. Para piorar a situação, o sistema começou a saturar: como o número máximo de prefixos disponíveis por estado era de 676 (26 x 26 letras), não havia prefixos suficientes para todos os municípios, já que as maiores cidades precisavam de dezenas ou até centenas de prefixos.
Felizmente o avanço tecnológico trouxe a solução: um registro nacional de veículos, que hoje é mais conhecido como Renavam. Adotando uma sequência de 11 números para identificar cada carro registrado no Brasil, ele permitiu a adoção de um sistema nacional de placas.
Quarto sistema: o registro nacional (1990 – 2020)
O atual sistema de placas começou a ser implementado em 1990, no Paraná, e foi adotado gradualmente em cada estado brasileiro, sendo totalmente implementado somente em 1999. As novas placas passaram a adotar um prefixo de três letras e uma sequência de quatro números (para motos inclusive), aumentando o número de combinações possíveis para mais de 150 milhões. Com o cadastro nacional, cada estado recebe uma série de prefixos que vão de AAA-0001 a ZZZ-9999 e são distribuídas de acordo com a demanda de cada estado. Diferentemente dos sistemas anteriores, desta vez cada combinação pode ser usada por apenas um carro, mesmo depois que ele tenha sido baixado (a placa literalmente “morre” com ele), mudando apenas a tarjeta de identificação do município de registro em caso de venda e/ou transferência.
O padrão da placa também mudou: elas passaram a ter o fundo cinza com caracteres pretos para veículos particulares, vermelho com caracteres brancos para veículos de aluguel, branca com caracteres pretos para veículos oficiais, branca com caracteres vermelhos para veículos de aprendizagem, verde com caracteres brancos para veículos experimentais ou em testes, azul com caracteres brancos para veículos diplomáticos, e preta com caracteres brancos (como o primeiro sistema do Brasil) para veículos de coleção, um esforço dos antigomobilistas brasileiros capitaneado por Roberto Nasser.
Quinto sistema: as placas do Mercosul (2017 – )
Antes mesmo que a sequência de combinações fosse esgotada, o Denatran entrou em um acordo com os países do Mercosul — Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela — para a criação de um sistema unificado nestes países, inspirado no sistema adotado pela União Europeia nos anos 1990. As novas placas serão brancas com uma tarjeta azul na parte superior, onde ficará o nome do país no qual o carro está registrado. A combinação alfanumérica terá quatro letras e três números dispostos aleatoriamente (embora a resolução 510 do Denatran preveja o arranjo ABC12D3).
No Brasil as placas terão a bandeira do estado e o brasão de armas da cidade onde o veículo está registrado, e a categoria de cada veículo será diferenciada pela cor dos caracteres — preto para particular, vermelho para aluguel, azul para veículos oficiais, dourado para veículos diplomáticos, verde para veículos especiais (aprendizagem, experimentais ou testes)e prata para veículos de coleção.
A implementação começa em 1º de janeiro de 2017 para todos os veículos novos ou transferidos de propriedade e/ou município, e será concluída até 2020.
Fonte: http://www.flatout.com.br/
Sugestão : Wagner Bonin