O primeiro passo é pedir autorização do Detran e depois fazer as mudanças, mas muitas pessoas fazem o caminho inverso
Terça-feira é o dia em que o Paulo Della Líbera tira seu Peugeot 206 da garagem para se encontrar com alguns amigos da comunidade tuning. O encontro tem como objetivo esclarecer dúvidas e trocar experiências sobre modificações de carros. Em 2003, Líbera comprou o seu automóvel e logo começou a modificá-lo. Primeiro, ele rebaixou e trocou as rodas do veículo.
Com o tempo, outras mudanças vieram. Hoje, o Peugeot é uma mistura das cores roxa e verde e suas portas abrem para cima (Sim! Assim como no filme do Batman). Além disso, o consultor da TI já modificou também o som e a suspensão do automóvel.
Passo a passo
Quando se pensa em tuning, logo vêm à cabeça aqueles supercarros da franquia “Velozes e Furiosos”. No entanto, é necessário estar atento à legislação, não dá para sair andando por aí com qualquer tipo de modificação. Se a pessoa quer elevar a potência do carro, por exemplo, a legislação permite qualquer diminuição ou aumento até 10% superior ao original.
Após decidir qual alteração quer fazer no carro, o motorista precisa pedir uma autorização prévia para o Detran. O órgão irá analisar com base no Código de Trânsito Brasileiro se a mudança se encaixa nas normas. Segundo Rafael Ribas, despachante da JR legalizações, muitas pessoas geralmente fazem as alterações e depois pedem a autorização, mas isso não é o procedimento correto. A autorização é um documento que serve para permitir que o proprietário faça as modificações e circule com veículo até o carro ser aprovado na vistoria.
O despachante explica que a inspeção do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) analisa tanto as modificações como itens de segurança como pneu, estepe, chave de roda e iluminação. Caso haja alguma mudança na potência do motor, também são feitos testes de emissão de poluentes.
De acordo com Ribas, para os veículos aprovados, o órgão emite um Certificado de Segurança Veicular (CSV). Mas se o parecer for negativo, o motorista recebe um relatório com o que precisa ser corrigido e assim tem até 30 dias para retornar, sem que nenhuma taxa adicional seja cobrada.
O próximo passo após conseguir o laudo do Inmetro é fazer a vistoria de identificação veicular e ir ao Detran novamente para a emitir um novo documento. Segundo o despachante, as alterações de roda e pneu são as únicas que não necessitam de autorização. Já as de cor e envelopamento (mais de 50% da área do veículo) é necessário obter esse documento, mas há dispensa do CSV. Ribas ainda ressalta que a taxa para a inspeção do Inmetro varia em torno de R$ 450. Já o tempo de legalização dura em média 45 dias.
A multa para quem está fora da lei depende do tipo de alteração realizada. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) afirma que a instalação de xenon, por exemplo, é uma infração grave (R$ 195,23). Além disso, o carro é retido para a regularização.
Um novo carro
Na zona oeste de São Paulo, a Batistinha faz customização de veículos há 20 anos. Para o proprietário da empresa, Fernando Batistinha, é muito importante que antes de realizar as modificações, as pessoas entendam quais são as suas necessidades.
Há pessoas como Líbera que buscam tornar seu carro exclusivo e pedem para colocar uma roda mais esportiva, um para-choque diferente ou até mesmo rebaixam o automóvel. O customizador menciona que o cliente deve estar consciente que algumas mudanças podem ter suas desvantagens. Para quem gosta do carro bem baixinho, por exemplo, vai ter mais dificuldade em andar nas vias esburacadas.
Líbera escolheu colocar uma suspensão fixa em seu Peugeot. O intuito era dar mais estabilidade para o veículo. Só que na hora de passar pelas vias com buracos é um sufoco! “No carro personalizado, você reaprende a dirigir”, diz ele.
Batistinha diz que sempre tenta achar um meio termo para apresentar ao cliente. “O carro precisa de uma roda com aro 15, e a pessoa quer colocar uma de aro 18. De repente, um aro 16 ou 17 vai ficar com um visual mais legal, sem prejudicar tanto o conforto”.
No caso da suspensão, também há possibilidade de colocar uma suspensão de ar, que utiliza bolsas que se enchem de gás para levantar o veículo e se esvaziam para abaixá-lo. Dessa forma, o motorista não precisa andar sempre com o carro rebaixado.
Mais potência
O turbo tem caído no gosto daqueles que querem melhorar o desempenho do carro. Segundo Marcelo Vieira Silva, proprietário da MVS preparações, essa modificação sai na faixa de R$ 12 mil. Em um motor com turbocompressor, os gases do escapamento são reaproveitados para movimentar o compressor do turbo. Quando as turbinas são acionadas, se joga uma quantidade maior de ar comprimido dentro do motor. Dessa forma, é possível utilizar mais combustível, gerando mais potência.
“A pessoa anda praticamente todo dia com um carro 1.0 e quando acelera, a turbina é acionada e se tem um desempenho de um motor 2.0. Se você está andando tranquilo no trânsito, o veículo não está usando a turbina”, afirma Vieira. É possível também fazer o automóvel ganhar potência e torque por meio da programação eletrônica do módulo da injeção (sistema mais conhecido como chip de potência). Por meio desse sistema, a mistura ar e combustível é enriquecida, consequentemente aumentando a potência do carro.
Mercado
Segundo Batistinha, o mercado de modificações não tem como acabar, porque as pessoas sempre estão buscando exclusividade. No entanto, algumas montadoras já começaram a oferecer veículos customizados de fábrica. “A parte de som há alguns anos era muito grande, hoje diminuiu muito, porque os carros já vêm com o som melhor”.
Alguns modelos nas versões mais premium também já têm banco de couro, uma mudança que também era muito procurada. Na parte de motores, diversas marcas estão investindo nos motores turbo. A Fiat, por exemplo anunciou recentemente que está testando motores turbo 1.0 e 1.3.